sábado, 11 de agosto de 2007

Primeiro de maio

Bebê enterrado vivo pelos pais, ex-policial é acusado de chacina, cartola do Fogo chama torcida do Mengão de f.d.p. e mulambada, bando vendia vagas na faculdade por R$ 70 mil, traficante empresta arma para adolescente matar menino, Tati Quebra Barraco vai posar nua. Como? O quê? Onde? Quem viu? Quem viu um anjo, quem acredita? Se eu dissesse que vi alguém sorriria? Se o mundo implodisse em tons expressionistas e lentamente, surrealistamente, a bunda da Tati fosse escorrendo como os relógios de Dalí e como fazem com o tempo todas as bundas, se o bebezinho sobrevivesse... alguém acreditaria? Alguém ainda crê em milagre? Que lugar é reservado aos que ainda acreditam? Onde estão essas pessoas? Que lugar é reservado aos que não acreditam, mas não encontram lugar aqui? Como é possível encontrar lugar? Somos como ratos que se matam devido ao superpovoamento? Somos cachorros no cio reproduzindo comportamentos esdrúxulos, criando ninhadas que já nascem doentes? Estamos eternamente doentes, com um cancro instalado nas mãos, com estigmas de um Messias por quem esperamos, para quem oramos, por quem esperamos como a um autêntico Dom Sebastião? Sebastianismo de espera, sebastianismo de engorda para abater a carne de tantos bastiões brasileiros como eu que vão para o abate tão cordeiros de deus. E como porcos recebem o carinho, o beijo de Judas antes da morte: “apedreja essa mão vil que te afaga / escarra nessa boca que te beija.” Sem nojo agora eu o entendo. Entendo a marca de dentes que fica em quem foi mordido, entendo que uma gota de sangue entre minhas pernas é símbolo de uma dor inevitável. E como sangram os porcos traídos, como sangram as almas dos bebês enterrados, como sangram meninos mortos por adolescentes, sangro eu, todo mês, todo dia. Assim também, desde a Idade Média sangravam cristãos arrastados como o menino João. Tem fim? Tem solução? E, tornada uma gota vermelha, eu, que era azul por fora e vermelha por dentro, hoje entendo a paixão e a guerra que fazem o mundo procurar o sangue de que é feita a vida e a morte. Entendo que não consigo mais ser azul e me inclino, em vísceras avermelhadas. Mas os shows embalam o feriadão. O dia do trabalho será comemorado ao som de Daniela Mercury (foto) e Beth Carvalho, que fazem show de graça hoje, em Copacabana. Em Realengo, quem faz a festa é Elba Ramalho. Faz sol, temperatura amena no Rio e o primeiro de maio segue sem muitos protestos. Protesto eu. Muda, pálida, mulher. Mulher aqui no século XXI. Uma gota de sangue... coagulada.

Nenhum comentário: