Há um vale atrás da balaustrada na curva do caminho,
mas quem chega só vê a superfície de flores.
O viajante sustenta os cotovelos e contempla
as cores que se estendem longamente,
mas não é um campo de flores.
Apóia os pés na reentrância da coluna para atravessar
e cai
sobre as hastes altas e flexíveis terminadas em botão,
no céu.
Um disfarce de flores para o abismo.
Ana Claudia Abrantes
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Uma casa
Chover lá fora não é o bastante.
Os canos aqui deveriam fissurar por dentro dos tijolos
e nada deveria ser intempestivo.
Toda rachadura levaria anos se desgastando
enquanto o emboço, cada vez mais úmido,
molhasse mal se encostasse a mão.
Uma solidão, leve, feito a brisa de duas asas
mina do fundo das paredes
e na superfície se faz o esperado vazio,
o frio almejado, quem sabe
até a frigidez, meu deus, como é preciso o frio.
estar só e feliz numa casa
simples, velha, completamente infiltrada.
Das narinas desenhar o caminho da expiração
tão mais quente que o ar.
Ir vazando, com um sopro mínimo
fricativo e sibilante
que de tão contínuo e filete não chega a pingar.
É o síngolo que chega,
único pêndulo ressoando a sinfonia inteira,
finalmente capaz e íntegro - um sino.
Mas toca estridente e melódico,
passional ou submisso aqui, no esterno,
como voz feminina tombada
por um exército de signos viris,
empunhando flores e espadas
sobre cavalos brancos.
Vagar pelos cômodos, conhecê-los.
Pela leveza etérea dos panos do vestido
que aderem aos portais e maçanetas orvalhadas, compreender
que a loucura dos homens não vê razão
na solidão.
Então rogar pela clausura desvairada!
Em paz!
Assim sonhar com uma parede azul claro
e carregar dentro de mim uma casa
fresca, úmida, suficiente e vazia -
uma casa.
Em qualquer casa que eu vá.
Ana Claudia Abrantes
Os canos aqui deveriam fissurar por dentro dos tijolos
e nada deveria ser intempestivo.
Toda rachadura levaria anos se desgastando
enquanto o emboço, cada vez mais úmido,
molhasse mal se encostasse a mão.
Uma solidão, leve, feito a brisa de duas asas
mina do fundo das paredes
e na superfície se faz o esperado vazio,
o frio almejado, quem sabe
até a frigidez, meu deus, como é preciso o frio.
estar só e feliz numa casa
simples, velha, completamente infiltrada.
Das narinas desenhar o caminho da expiração
tão mais quente que o ar.
Ir vazando, com um sopro mínimo
fricativo e sibilante
que de tão contínuo e filete não chega a pingar.
É o síngolo que chega,
único pêndulo ressoando a sinfonia inteira,
finalmente capaz e íntegro - um sino.
Mas toca estridente e melódico,
passional ou submisso aqui, no esterno,
como voz feminina tombada
por um exército de signos viris,
empunhando flores e espadas
sobre cavalos brancos.
Vagar pelos cômodos, conhecê-los.
Pela leveza etérea dos panos do vestido
que aderem aos portais e maçanetas orvalhadas, compreender
que a loucura dos homens não vê razão
na solidão.
Então rogar pela clausura desvairada!
Em paz!
Assim sonhar com uma parede azul claro
e carregar dentro de mim uma casa
fresca, úmida, suficiente e vazia -
uma casa.
Em qualquer casa que eu vá.
Ana Claudia Abrantes
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
acordados
forçar a língua para lamber à frente
é tanto inventar aspectos verbais impensados quanto conjugar flores do campo e orquídeas
num só arranjo.
criar e forçar.
sentir queimar a língua, alongando-a úmida, dói e arde.
elástica língua, como partes do corpo, berrando impropérios ou gemendo
acordos.
tensionar ao limite a distância espacial,
mas não romper a fibra.
solucionar o desfecho com a geografia de um de nós
aberta no sofá da sala.
.
.
.
.
.
passada a chave, nós dois.
Ana Claudia Abrantes
é tanto inventar aspectos verbais impensados quanto conjugar flores do campo e orquídeas
num só arranjo.
criar e forçar.
sentir queimar a língua, alongando-a úmida, dói e arde.
elástica língua, como partes do corpo, berrando impropérios ou gemendo
acordos.
tensionar ao limite a distância espacial,
mas não romper a fibra.
solucionar o desfecho com a geografia de um de nós
aberta no sofá da sala.
.
.
.
.
.
passada a chave, nós dois.
Ana Claudia Abrantes
Assinar:
Postagens (Atom)