sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O enforcado

A noite escura da alma

agatha negra de neblina em transe

em crise em filme de ficção natural

de um mal que a película não quer

suportar é além da força que está

sobre os pés.

A noite escura da alma

é azul marinho do escuro céu

sem véu de estrelas nem láctea

imagem de brancura diáfana.

A noite escura da alma

está dependurada e crucificada

como um cristo reverso enforcada

no meu eu sem outro meu.

A noite escura da alma

está presa na sala escura

projeção sem força de luz

sem auxílio sem nome sem giz

numa lousa queimada de cinza.

A noite escura da alma

não vomita não mija não cospe,

enjoa.

Agüenta, entope os filtros

da inocência e pureza, sem propósito

sem grito, sem festa, sem lenço

de papel ou abraço.

A noite escura da alma

acompanha passeia pastosa

sem ar sem aerado

arenosa noite escura sem fim.

A noite escura da alma

me gruda me prende me chama

me cala me dosa me rende

me doma com nojo me inflama

sem misericórdia sem mistério

sem verso sem prosa

sem tempo sem medo sem vento

sem cedo.

A noite escura da alma

agarra

como pigarro encarnado

na garganta sem voz nem

canto ou saliva

nem sonho nem nada.

A noite escura da alma

me convida

ao tédio à cerveja à igreja

ao samba ao beijo ao remédio

à tarja preta.

A noite escura da alma

me alucina

me dói a cabeça e vacina

a ingenuidade.

A noite escura da alma

me empurra me porra

contra a parede chapisco

me marca pro resto de mim.

A noite escura da alma

me conclui.

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