sábado, 29 de novembro de 2008

irritadiço

PROCRASTINAÇÃO É UMA PALAVRA PUTA.
Prostituição é que é oxítona



Ana Claudia Abrantes
28 de novembro de 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O esqueleto

Áspero e ressecado. A luta cotidiana contra barreiras de vidro não forjou por completo sua rigidez, por isso não impediu as fissuras de sua alma sensível deveras.

É por elas que sua
uma delicadeza nos olhos,
um amor engasgado,
um nó.

E porque não se pode quebrar,
veda, todos os dias, com uma mistura de cal, cuspe e mágoa
as próprias rachaduras.

Mas no fim do dia é que vem o desejo
de um banho de alecrim,
água de sálvia, água que o salve...
E o desejo é sempre tão forte que, dos sonhos, ele sempre desperta
com os ossos úmidos.


Ana Claudia Abrantes
27 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Humana face

Humana face!
O espelho embaça
aquilo que não se desvela.
Na turba só um gesto
faz silêncio.
Mas pênis multifacetados, hiper-coloridos se revelam:
pedófilos na festinha infantil.

Humana face.
Subliminares sugestões do pensamento pueril/viril-vil escorrem
da frente
da testa
dos incisivos...
dos falos.
Transbordam frente à face o desvario
da nuca arrepiada em impulso ríspido
de obnubilar
o rosto e a alma.

De nada adianta.

Humana face:
pelos cantos dos lábios e nas covinhas
pelas frestas dos olhos, pelas narinas, pelas orelhas, pelas tetas
pelo ânus, pelos póros todos, pelo pênis, pela vagina
transborda a humana pasta, o humano plasma
de riso mijo leite cera sêmen enxofre e lágrimas.


Ana Claudia Abrantes
26 de novembro de 2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

sedeliciamantes (segunda versão de "recíproca)

calor saliva cultura
de sêmen e vulva estalo
néctar fímbria de plasma e paz universal

delicicadamente e superpostos

delícia seiva Alice e Vício a postos
e díspares
e tonitruantes no mesmo tom

delicicadamente e superpostos

suor refluxo ardor soluço soluço
amalgamágica diafragma nu
diafragma união ventral

decúbito em ângulo súbito
180 graus

simétricos
sinérgicos
sérios

síntese síncope cópula cúpula
U



Ana Claudia Abrantes

terça-feira, 11 de novembro de 2008

anselmo

veio um cheiro de ontem das flores mortas e seu rosto gigante com sua cara de lua ficou pendurado no céu.


Ana Claudia Abrantes

secura

meu coração drenou até o asfalto.


Ana Claudia Abrantes

Distraído

Foi quando uma pétala caiu no meio da folha branca do livro, trazida pelo vento do buraco vazio do ar-condicionado. Ali estava o distraído acaso se vestindo de flor.


Ana Claudia Abrantes

sina

no centro há sempre sede.


Ana Claudia Abrantes

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

entrelinha

um verso, uma linha só no verso da folha
no verso do vento, uma brisa só no vão do vento,
um pensamento só

versátil, o reverso do verso é a entrelinha.

a entrelinha é do verso o contra-verso virulento, é o vento.
a entrelinha é do verso a vice-versa recíproca, é o imenso
desejo de
nunca
preencher o vazio...





Ana Claudia Abrantes

astrologia

então só faremos sexo de novo quando os astros estiverem alinhados em forma de coração, ela disse e ele riu. depois eles se amaram.



Ana Claudia Abrantes

sinos que não tocam

sono, apatia, lentidão
catatônica mudez de labirinto
consoante muda um grito em interru p ção
suspiros suspensos sob o céu da boca

um sino que ninguém tocou

sinal inerte de aviso de um elo perdido
e já não sou eu nem outra. nem sou.



Ana Claudia Abrantes

compensação

vislumbres são volúveis como nuvens

mas o desenho que formam.




Ana Claudia Abrantes