terça-feira, 19 de junho de 2012

De Gérbera para Adriano

(Adriano foi indiferente e eu trabalhando Adriano em porcelana.
De setembro pra cá, também não o amo mais.)


Espera agora. Como uma mulher que, mesmo sozinha, se perfuma antes de dormir.
Espera agora.
Eu gostava dos dias em que tínhamos condescendência e esperança,
quando andávamos na Barão de Lucena e nem tudo estava perdido ainda.
E ainda se esperava tanto e tudo.

Porque o gesto de dar e o de receber são iguais no final;
e nas tuas mãos em concha cabe pouca água para tanta sede.
Porque estendia assim as minhas mãos, para ti, sobre ti e a ti fazia preces,
em voz baixa para que me ouvisses apenas balbuciar, para que me amasses na minha ponta dos pés,
porque eu pisava leve para não te assustar com meus pesos.

Hoje não te deposito moedas nem te preencho com palavras as frases entreditas.
Prefiro ouvir imaginando, Adriano, as músicas sem letra que inventamos.
E te esqueço às vezes pra que sejas livre,
E depois volto e te compreendo e te possuo.
Conforme o que precisas.

Criaste um modo de olhar e de pisar que transforma tudo ao redor em Olimpo
enquanto passas. Mas o tempo já deu voltas.
E as gérberas, depois de uma semana, murcham
como se viessem murchando por anos.





Ana Claudia Abrantes