segunda-feira, 22 de junho de 2009

Unção extrema

Há uma taça em primeiro plano, à esquerda de Jesus. Esta é a mão com que Ele segura a mão do Pai, pois Deus só tem o lado direito aos melhores. Enquanto faz, com a direita, o juramento divino e, com a esquerda, segura a mão do Pai (que dizem só ter a direita, já que ninguéu ouviu falar sobre o Seu lado esquerdo), Ele não beberá da taça.
Depois, Deus o dá aos homens. Será quando Ele tomará aquele vinho com a esquerda. E, então, levemente ébrio, perdoará todos os nossos pecados.



Ana Claudia Abrantes
22/06/2009

domingo, 21 de junho de 2009

ao molho pardo

juliana de beterraba, juliana de cenoura, juliana de batata, juliana de piranha.
escondidinho de camarão, escondidinho de carne seca, escondidinho de piranha.
dobradinha.
creme de abóbora com gorgonzola e juliana de legumes, caldo de piranha.

juliana escondidinha, dobradinha, na mesa:
caldo de juliana,
picadinho de juliana, juliana legume.




(Ùltima versão)

Ana Claudia Abrantes (e demais colaboradores!)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

juliana

juliana de beterraba, juliana de cenoura, juliana de batata, juliana de piranha.
escondidinho de camarão, escondidinho de carne seca, escondidinho de piranha.
dobradinha.
creme de abóbora com gorgonzola e juliana de legumes, caldo de piranha.

juliana escondidinha, dobradinha, na mesa:
caldo de juliana,
picadinho de juliana, juliana legume.





Ana Claudia Abrantes
11 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

O.caso de amor

Oco acaso, caso oco, acaso uma testa no fundo da piscina. Bem que ele avisou: Mergulhos não são aconselháveis no vazio. Mas ela, que não conhecia homeopatia, esperava um fundo falso. E sair do outro lado com uma bóia na mão e um remendo de nada no supercílio. Que nada.
Oco acaso, caso oco, ocaso.


Ana Claudia Abrantes
09 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pomar de bergamotas

Olhava com ternura o casal que passava. Ouvira falar que tiveram filhos gordinhos e o povo acrescenta que o mais novo quase rasgou o corpo dela. Nessa época ele enlouqueceu. Faltou ao trabalho sem justificativa, ficou barbado; a caspa ficava dias salpicando sua camisa preta e ele pregado ao lado da cama. Até que concordou que era a única solução arrancar-lhe o útero. Quando ela acordou, entendeu que agora era metade mulher e ele decidiu mostrar-lhe a Europa um dia. Foi o que fizeram nesse fim de ano, depois de tantos anos do procedimento cirúrgico e agora quando ela não mais lembrava. Aliás, ela não vinha lembrando de muita coisa. Às vezes até embaralhava o rosto dos filhos e netos e, para chamar pelos nomes, simplesmente os sorteava. Agora nem mais a pílula azul ele tomava e fazia era tempo que nenhuma amante lhe acendia as memórias da madrugada. Um dia, escapou e ela soltou um pum. Havia demorado tanto que ele nem se surpreendeu mais. Mas ficou assustado quando ela se perdeu em Vilar dos Teles e ele sentiu que nunca mais a veria. Foi ali que ele pensou que o tempo passa e que não podemos fazer nada. E desconfiou o que sempre soubera: que ela não tinha sido o amor de sua vida não, mas era ela o amor que a vida deu e vinham sendo felizes sem mais, desde que decidiram não querer tanto.

Quantas vezes ela não gostou e tentou expelir o esperma dele de volta, forçando a descida para as coxas, mas tanto não conseguiu quanto ninguém ficou sabendo. Dizem que algumas fêmeas de inseto conseguem... Ele também já quis botar o travesseiro na cara dela. Um dia ele gritou. Outro, disse amém. Teve dia que quase se socaram. Mas quanto de medo também pode construir castelos de mármore? Só que o mármore, que não tem cheiro, tem o pomar de bergamotas do castelo e isso inebria hoje o meu apartamento inteiro.
FIM


Nota do autor:
Melhor sair às pressas antes que a minha inveja se transforme em duas e o meu talento para entortar faça efeito por telepatia na vida dos outros. Não ter um amor assim também me deixa verde, mas pedir é sempre um erro, um convite, à miséria. Então recolho minha mão estendida, e fico toda me querendo, invisível.




Ana Claudia Abrantes

corte

não tenho sido véus nem transparências, tenho sido o ponto final guilhotinando o não da palavra. e um não interrompido não se transforma em sim, nem talvez. porque o não da palavra ecoa. Cortar-lhe o eco é.



Ana Claudia Abran.