sexta-feira, 9 de julho de 2010

Exemplo

Um dia vou comprar um batom vermelho então vou ser uma mulher. Já tenho finalmente um perfume francês, e lápis azul petróleo para combinar com os olhos, estou aprendendo. Minha mãe não me ensinou a me maquiar nem pelo exemplo, mas ela me apresentou os dois extremos de uma só mulher: eu sou calma, eu sou histérica; conforme convém. E vou, feliz descompensada, nesse desequilíbrio estável que é tambem uma síntese da mulher que em mim se adiou. Hoje saio descabelada para o trabalho, ou decido que já é hora de ir à padaria de salto fino enfim. Aprendi com as fotos de Clarice Lispector que rímel preto nas pálpebras é um nocaute! Enquanto minha mãe me ensinou, silenciosa, que os olhos mudam e por isso mudam as coisas. Tá certo, mãezinha, já faz um tempo que comprei o rímel. Não, não vamos chorar agora, não é á prova d’água…


Ana Claudia Abrantes
(Para M.)

4 comentários:

Unknown disse...

Adorei o "desequilíbrio estável". Espinosa nunca teria pensado em expressão melhor!

Grande abraço.

Anônimo disse...

sorriso... essa menina mulher, ajeitando-se nesse "desajeito" da vida...e tentando dar contar do viver... vívida!

bom é passar por aqui!

até

Jânio Lima disse...

A mulher pós-moderna um batom, um brilho nos olhos, pó no rosto pronto está satisfeita. sem isso não se trabalha, sem isso a rua jamais, sem isso não se vive. E elas acabam por esquecer que o natural é extraordinário com ou sem maquiagem a mulher perfeita jamais será feia. Obrigado pela visita mais uma, sua aprovação ao meu poema levanta ainda mais minha stisfação em escrever, mais uma vez obrigado. O comentario não retribuição sempre estou em seu blog lendo abraços!!

Ana Claudia disse...

A maquiagem era só uma desculpa para falar de outra coisa, que talvez não tenha sido dita.
Abraços