sábado, 30 de janeiro de 2010

só para os bravos

dez horas de viagem sem ônibus leito metrô às seis da tarde viagem mochilão praia com isopor.
haleua gorgonzola puro língua de boi dobradinha coração de galinha isca de fígado cebola aos pedaços amor de uma vez trepada em dez minutos estupro dormindo.
quibe cru sanguinho dente de alho numa mordida só halls preta rúcula amarga mostarda na língua cinco pimentas de uma vez.
ventilador no saco calcinha suada pau no cu apertado todo dia mamografia.


Ana Claudia Abrantes
28 de janeiro de 2010

reveillon reverso

um pedido:
pulo sete ondas pelo peito no umbigo.




Ana Claudia Abrantes
28 de janeiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

a máquina

mama densa dói mais, mama tensa.
relaxa, mama, relaxa e atenta
tenta, te acalma, estica, respira, agora pára.
aguenta.
mama imensa, não! não pensa, não grita, não ai,
não, mama menstruada!, não tem peito, não? mas não tem peitoril que isso não é janela.
te encaixa aqui e te aquieta, tremer só piora, agora espera.
vou te medir com minha fita métrica, mas a medida pode ser elástica, a pressão que não,
porque, intensa, dói mais.



Ana Claudia Abrantes
28 de janeiro de 2010

sábado, 17 de outubro de 2009

Três desenganados

mesa póstuma

era preciso, era extremamente necessário, imprescindível mesmo
que o troco de nosso amor corrido, prostituído em meio período
fosse o preço da consumação.


penas brancas

você pesa como 70 quilos de pena, meu amor.
essa tua bondade que me inibe o voo.


clandestino

atrás da moita tiro
meu seio pra botar na tua mão
só que meu coração vai junto.




Ana Claudia Abrantes

sábado, 10 de outubro de 2009

DEL

De leite em leite, ela
delícia dele delata
de leite em leite, de passo a passo
de grão semente à morte.

De leite em leite ela
delícia dele rápida
deleite em lente de tela em frente: memória
fraca...

Deleite em leite ela
delícia dele dilata
de grão em grão acaba a história
delete.


Ana Claudia Abrantes
09/10/2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Saudade

Eu confesso que sinto falta de Deus. Confesso que já me achei uma tola pelo tamanho da fé que tive comigo um dia. Confesso que minha fé começava em Deus e se estendia a todas as pessoas ao meu redor e talvez até a mim mesma. Confesso que depois de uma oração eu me sentia renovada e era capaz de quase tudo de bom. Confesso que às vezes eu sinto saudade de "mim um dia".
Mas confesso que, hoje, acontece uma estranha tranquilidade dentro de mim, quando alguém me dá a mão e rezamos um simples Pai Nosso. Aí eu lembro da mocinha que orava com os amigos e acreditava sinceramente que "onde estiverem dois ou mais reunidos em Meu nome, Eu estarei" (algo mais ou menos assim). Entretanto penso que a lógica é que Deus esteja onde houver um ou onde houver todos, mas entendo sinceramente o que aquele velho trecho da Bíblia queria dizer... Só não sei se argumentos lógicos têm algo a ver com Deus. Talvez tenham deveras. O que é estranho é que quanto mais pragmática eu fui ficando, mais um sentimento de espiritualidade foi perdendo a vez.
Confesso que, apesar de tudo isso, há algumas pessoas por quem eu oro com certa frequência, (embora bem mais rápido do que eu gostaria), há alguns dias em que eu sinto necessidade de agradecer a Deus sem exatamente saber o quê, há algumas vezes em que eu O imploro sem palavras. Confesso que quando não consigo orar, quando não me sinto cheia da graça de Deus, fico com o coração entregue se alguém diz: "Estou orando por você e pelos seus". E se eu sinto que é verdade.


Ana Claudia Abrantes

sábado, 12 de setembro de 2009

Talvez uma moça não deva reclamar de flores

Talvez as escolhidas tenham amores sem delicadezas instituídas.
Quando uma mulher recebe quase tudo de um homem é hora
de agradecer porque ele seria capaz de muito: ele lhe faria um banho de hidratante de pêssego, ele lhe alimentaria os filhos, mesmo bebendo também o seu leite, ele lhe faria um currículo lattes um dia inteiro. Quando uma mulher recebe de um homem quase tudo que ele poderia dar, não é justo
que se reivindiquem flores.
Flores dizem que a ausência vai em forma de beleza efêmera, mas o carinho é perene. E dizem mais: dizem que Vênus é uma estrela tola, mas encantadora, dizem que a alma da moça, que eles sempre mal conhecem, merece sutilezas, ainda que distantes.
Flores são para moças tristes.
E ela é uma mulher feliz...
É perigoso, injusto ou feio reclamar de flores.




Ana Claudia Abrantes