segunda-feira, 4 de outubro de 2010

o tempo e o afogado

não é possível conter o avanço das cáries.
atrasar o relógio seria lúdico,
mas o corpo continua cansando
até a fadiga.
tento flashes e fotografias
para parar os dentes,
mas eles ainda escurecem
dentro da boca.

enquanto isso no fundo do rio
fazem força duas correntes.
elas se opõem e pesam.
é por isso
que o náufrago fica
ali para sempre.




Ana Claudia Abrantes

11 comentários:

Fred Caju disse...

Arcada dentária e naufrágio. Combinação inusitada, mas que valeu um ótimo poema!

Unknown disse...

Muito bom. É tudo inevitável.

Anônimo disse...

Uau! Massa!

Yan Venturin disse...

O tempo sempre enegrecendo os dentes e o nosso naufrago interno sempre tentando emergir mas sempre com correntes o empurrando com força para o fundo. Belissimo poema, simples, catartico e fantastico, como sempre, aliás. Parabéns, beijos..

Lê Fernands disse...

quanta criatividade!

adorei, anna.
bjs meus

Letícia Palmeira disse...

Caramba, Ana. Surtei com esse poema.

Bjo.

Moisés de Carvalho disse...

que lindo poema ...!

conheci teu blog hoje , daqui não saio mais !

um beijo , ana !

O Neto do Herculano disse...

São os destroços do navio
que levam o náufrago à praia.

Helton Fesan disse...

Meu, gosto muito de teus poemas. E este... tem algo de morte e apodrecimento... Muito humano.

Jeferson Cardoso disse...

Ana Claudia, se em minha boca as carias avançam, nos mares avanço eu. “Navegar é preciso” (Fernando Pessoa)

“Para o legítimo sonhador não há sonho frustrado, mas sim sonho em curso” (Jefhcardoso)

Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

Miranda disse...

Gostei desse poema! Vou reler.Gostei dele inteiro. E os versos finais... Um poema que surpreende.