domingo, 12 de abril de 2009

ágeis e vítimas

entre quatro margens e o céu, o tempo corre, ou pára.

águias paradas canalizam o silêncio. são antenas que captam o imprevisto, a imprudência. são ferozes que guardam as máscaras mortuárias, são algemas que prendem a inocência.
águias paradas absorvem o barulho, intermitente, dos outros pássaros. absorvem o canto e o movimento assustado, célere, dos passarinhos. e aquietam. atentas . anteveem a tontura da caça, a futura ausência do dono no ninho. águias paradas são bomba e relógio, separadamente. águias paradas são antes. são antes do próximo passo. ágeis são de repente: o céu, a garra e o nada.

já as águas paradas são lodo, são limo. canalizam folhas murchas e esqueletos de girinos que não vivem. águas paradas são charco e não é bom sonhar com elas. águas paradas decantam cativas do tempo. não cumprem a função de sempre escorrer; são ontem. águas paradas são mornamente em espelho: as árvores e o céu, mas, vítimas, entre quatro margens, ficam escuras.

águias paradas precisam estar em instante. pois águias paradas não podem, não devem, não querem ser águas paradas. embora nelas, nas águas, a vida continue insistindo (mesmo contra o acúmulo do tempo em camadas) e sempre vingue.



12 de abril de 2009
Ana Claudia Abrantes

2 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Gostei do seu texto.
O confronto entre as águas e as águias resultou muito bem.
Cara amiga, um bom fim de semana para vc.
Beijão.

Ana Claudia disse...

Obrigada, Nilson. Quero tanto ser mais águia do que essa água aqui... Que você tenha passado um bom fim de semana também.
Beijinho