quarta-feira, 16 de novembro de 2011

digestibilidade OU os gatos

o impulso inaugural junta
o polegar e o indicador nos cabelos crespos e puxa, pela primeira vez.
e desde a primeira vez escorre um prazer de molhar virilhas de suor e sede.

depois eles passam unidos as horas da tarde, gozando mecha a mecha
as falhas, as frestas como resultado.
mas paira aquela fome de comer cabelo angustiante,
exposta languidamente em ângulos óbvios
de uma nudez pouco excitante, e ávida.

precisam de mais.
como traças conhecem os cantos mais porosos e digestivos,
eles se conhecem mordiscando a penugem das nucas, serelepes.

a vasta cabeleira também saltita em tufos concentrados, que caem.
entre as pequenas moitas que sobram no couro cabeludo, a pele clara
revela as veias mais verdes.
os olhos ainda são azuis, só mais expostos e escuros.

estão assim,
fazendo bolas de pelo e de saliva, fios entre os dedos.
e mesmo agora
ambos ainda querem todos os poemas
e provar papel de versos, nanquim e grafite, pele e unhas
até o sabugo.




Ana Claudia Abrantes

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