quinta-feira, 22 de abril de 2010

Manhãs

Manhã


Numa cabana velha e alheia à glória, um selvagem guardava um mundo encantado sem palavras nem silêncios. Guardar também é o segredo dos meus versos. Para eles uma turba não seria mais que uma pessoa. E eu já tenho a minha.

(Para J.)


Noite


Uma sonhadora que amou sozinha pendura o próprio túmulo pelo pescoço na moldura da cama e chuta. Ficam os pés soltos no ar feito um móbile trágico.


Madrugada


Veio um covarde e disse que queria o tesouro de peças inúteis de significar nada. E viu nelas a beleza de que precisava e recebeu o direito de recolhê-las para si, e assim se redimiu. Há mistérios que redimem a covardia.





Ana Claudia Abrantes
21 de abril de 2010
(Depois de assistir ao filme Todas as manhãs do mundo.)

Nenhum comentário: