Manhã
Numa cabana velha e alheia à glória, um selvagem guardava um mundo encantado sem palavras nem silêncios. Guardar também é o segredo dos meus versos. Para eles uma turba não seria mais que uma pessoa. E eu já tenho a minha.
(Para J.)
Noite
Uma sonhadora que amou sozinha pendura o próprio túmulo pelo pescoço na moldura da cama e chuta. Ficam os pés soltos no ar feito um móbile trágico.
Madrugada
Veio um covarde e disse que queria o tesouro de peças inúteis de significar nada. E viu nelas a beleza de que precisava e recebeu o direito de recolhê-las para si, e assim se redimiu. Há mistérios que redimem a covardia.
Ana Claudia Abrantes
21 de abril de 2010
(Depois de assistir ao filme Todas as manhãs do mundo.)
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