sexta-feira, 12 de agosto de 2011

o super feto

é lento, é fraco e esconde armas e inépcias num baú antigo junto à coleção de retratos da infância.
são sorrisos francos e outros amarelos. duas pernocas abertas, mostrando o pequeno pinto e a expressão de surpresa enquanto batiam a foto: as dobrinhas à luz do dia.
os olhos são sempre maiores, as bochechas, a cabeça grande e mole. ele não sabe ainda, mas ela vai ser dura. também os ossos endurecerão até a inércia.
sentado ou de pé, cada um que escolha como se morre. e parar de sonhar que éramos para sempre, é necessário.
com um pouco de rivotril se vai leve, e fundo se vai com diazepan genérico, se mais e mais fundo. mais fundo um lexotan ou dois, a noite é uma criança, pequena e distraída
com o tapete emborrachado de letrinhas.
um anjo que cai, já que cai, deve se corromper até o pó de vidro, e rasgar com fricções constantes os dois lados: um da arrogância outro da ingenuidade e sobra
só um pouco de sangue na palma das mãos com as quais damos abraços
no ceticismo pesado em nossas costas, então recíproca e umidamente vermelhas, quentes.
pelas costas jogar um ramo de louros, salgado em gotas de água benta, espirrar sobre.
deixar queimar a criança e parir, com urros, um adulto
de espécie híbrida, porém fértil, mas quasímodo ainda.
melhor que aquela infância morosa, amorosamente atrasada, que o amor demais também retarda.



Ana Claudia Abrantes

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