sábado, 9 de abril de 2011

moscas

o amor, ao qual eu fico submisso,
me rói as unhas, me parte os cabelos pelo meio,
antes da raiz.
depois de muita melancia,
bota um monte de bosta, onde até as borboletas
vêm lamber açúcar.
não molho só os dedos na água de lavanda;
mergulho os braços até os cotovelos,
após tatear sua gordura.

então, com mãos cheirosas, espanando, afasto as moscas
da nossa cama.


Ana Claudia Abrantes

12 comentários:

Wilden Barreiro disse...

estranho, muito estranho este poema estar pousado aqui desde sexta-feira
e ninguém ter entrado ainda
para tocá-lo, acariciá-lo.
então, Anna, entro eu, eu e minhas mãos impuras, as mais sujas de que tenho notícia, para espaná-lo.
que voe, que voe alto, que voe para bem longe dos que estão perdendo a chance de desfrutá-lo.
quando a mim, já o tendo consumido, deito-me nessa cama limpa em que ele termina, e renasço, com esperança na espera, simplesmente e nada mais.
o que não é nada pouco contra toda a imundícia que me calejaram as mãos.

Tuca Zamagna disse...

Comigo, o amor tirano faz disso pra mais. Mas não tenho a sua coragem pra confessar exatamente o quê.

Quanto à unhas, porém, ele é mais bonzinho comigo. Só me rói as dos pés.

Beijos

P.S.: Hoje que a insônia promete, estou aproveitando pra fazer uma visitinha mais demorada. E plantarei umas abobrinhas por aqui.

Anônimo disse...

se sujo ou limpo, presente ou ideia presente, insistente, pertinente, displicente... ideia que beira a coisa de si.

bjo

Lê Fernands disse...

que a lavanda abençoe...

Wilson Torres Nanini disse...

moscas, como urubus, tentando pastar a delícia: mas há as mãos cheirosas - que bem-tecem o belo poema - que as espantam para longe.

Maravilha!

Abraços!

Fred Caju disse...

Sensacional! Posso repostar nesse blog (http://cronisias.blogspot.com/) que colaboro? O poema se sentirá em casa! Abraços!

Fred Caju disse...

http://cronisias.blogspot.com/2011/05/bzzz.html

Grato, Ana!

Ana Claudia disse...

Eu que agradeço, Fred. Beijo p ti.

Alicia disse...

As vezes acho que moscas são a minha alma.

Nilson Barcelli disse...

Achei o poema divertido.
E bem escrito.
Querida amiga Ana Claudia, tem um bom fim de semana.
Beijos.

Ana Claudia disse...

Divertido?


Acho que eu não tenho conseguido fazer muita coisa bem humorada, não...

Nilson Barcelli disse...

Ana, quando escreves mais?
Fico à tua espera...
Entretanto, publiquei novo poema. Espero que gostes...
Beijos, querida amiga.