ao abrigo da luz, os perfumes caros
e os remédios.
contra os flashes, a proibição de máquinas e celulares.
ao abrigo, na penumbra devem estar as obras raras,
embora no escuro bibliotecas sejam pó.
lentamente as pessoas derretem
e se fossem de cera escorreriam
sob holofotes.
o tempo e a luz, uma lei da física
inevitável teus olhos cada vez mais distantes.
é a luz que ameniza humores melancólicos,
que deixa contritos os prováveis suicidas, e eles retrocedem.
a luz que as mãos dão aos filhos e que faz
crescerem as plantas,
a luz que evapora na praia,
que enternece uma manhã de sol, mas a luz do sol
derrete, e tudo é ícaro, todo voo cai.
dói ao continuar batendo no mesmo lugar,
diariamente.
também a pele das testemunhas fica
feito frinchas de falésias, amorenada.
o tempo e a pele, muros
de barro ou bronze, quebrados.
manchas, sardas, linhas, pequenas mágoas, todo dia.
as fotografias craquelam, memórias falhas.
mas se até as testemunhas envelhecem,
a solidão não é um privilégio.
nenhum abrigo.
Ana Claudia Abrantes
9 comentários:
A solidão por vezes é esse abrigo, e um grande privilégio. Um abraço.
A solidão não é privilégio de poucos. A solidão não é abrigo contra a luz nem contra a passagem do tempo. Às vezes ela é um presente.
Um beijo
"(...) tudo é ícaro, todo voo cai.
dói ao continuar batendo no mesmo lugar,
diariamente."
Excelente poema, adorei!
Beijo.
adorei a definição de solidão... também não é companhia.
bjs meus, linda.
"a luz que as mãos dão aos filhos e que faz
crescerem as plantas,
a luz que evapora na praia,
que enternece uma manhã de sol, mas a luz do sol
derrete, e tudo é ícaro, todo voo cai.
dói ao continuar batendo no mesmo lugar,
diariamente."
Lindo e catártico, como sempre.
Achei um pouco da minah solidão nacompanhia de seus versos. Obrigado. Beijos.
gostei disso, filoso-poetando dentro copm o que se vê fora virou um texto mto bom!
Hermético e suave, gostoso de ler e de sentir.
Muito bom, prazer estar aqui! E obrigado pela leitura tbm.
Bjs
Sou muito curioso, bisbilhoteiro mesmo. Mas você me supera, Ana. Foi investigar o tom da pele das frinchas de falésias!
(Avisei que ia espalhar abobrinhas, né?)
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