quando o bonde passa
a louça estremece
a porta, o espelho, a janela até hoje estremece quando o bonde passa.
sal grosso queimando estala
ovo
galinha
os vidros da cozinha
frisada, a luz do sol na persiana vibra.
o lustre, a bancada de perfumes do banheiro,
o quadro na parede,
o móbile de pássaro treme,
freme a música tocando - interferência e queda.
de novo passa o bonde e o assoalho oscila
a rosca da torneira a pia pinga,
a cândida infecciona, o dente dá pontadas.
o sino pendurado,
a lâmpada tilinta,
o teto, o caritó, o peito eu trinco a arcada
quando o bonde passa.
quando o bonde passa,
a louça estremece, a porta, o espelho, a janela, a tarde, o meu coração até hoje estremece quando o bonde passa.
Ana Claudia Abrantes
7 comentários:
Quando o bonde passa, a casa se personifica, a gente fica até mais viva.
Beijo, linda!
Bravo, bravo. Muito bom mesmo.
ew memso quando não passa, o coração ouve o bonde.
lindo.
bjs meus
Ana,
vim agradecer a sua visita com rasto visível e conhecer este seu espaço. gostei do que vi e, por isso mesmo, pendurei-me num quadradinho dos anacõnicos. :)
voltarei, certamente.
--> anacRônicos <--
sorry! :)
Cheguei para agradecer sua visita ao Roxo, mas foi mais que isso: gostei muito!
beijos,
Foi por causa do bonde que eu me mudei de Santa Teresa. Mas não adiantou. Ele veio atrás, e continua balançando tudo, dos metais e cristais às minhas vísceras, em plena Lagoa.
Ah, acho que você vai gostar de conhecer o blog do António Cabrita, ótimo poeta, crítico, cronista e tradutor.
http://raposasasul.blogspot.com/
Abraço
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