terça-feira, 20 de novembro de 2007

estética da violência (sobre meninos e bailarinos)

a vida sem poesia é corpo em risco em queda em livre audácia do impacto,

em choque cáctus _ tenso elástico rompido.

é também uma estética, uma fórmula máscula do selvagem épico-narrativo

de menino abrupto.

a vida sem poesia é haste tensionada até o máximo grau impossível, é teste.

é testículo, é a testosterona dos sentidos primários na força ancestral bruta real patética e necessária (?).

é baque, é batuta, é percussão de samba sem letra candomblé e batente.

Scorsese, Tarantino, macacos e meninos sem lei.

é pega, é polícia, é favela de verão, futebol, urro rock Rio fálico trágico tiro e faca.

a vida sem poesia é corrida, guerra, disputa, é técnica.

é vazão do ego maior que o ego maior que.

tudo é veloz no corpo em risco dos meninos

e bailarinos de pulos sem impulso, meta sem preliminar, gol sem finta, beijo roubado, equilíbrio-segundo

e assalto.

mas, no cordão de fogo e dínamo cabe, estranho e delicado, um doce monstro:

uma fresta de luz indireta, uma seta torta, uma porta aberta:

cabe, espaçoso e mágico, um gigante urso de pelúcia.

Ana Claudia Abrantes

02/11/2007)

(Cena 11 no Municipal, durante o Festival Internacional Panorama de Dança)

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