segunda-feira, 17 de setembro de 2007

cheiro envasado a vácuo

há um modo de tirar o cheiro de um corpo; descobri ontem.

descobri que se os cheiros se misturam demais, deslocam-se da carne para o ar como o som.

depois é puxar a fragrância numa sucção estalada e guardar na boca;

suave e ousadamente como se guardariam alfinetes na bochecha.

o cheiro do outro vai se esvaindo, vai murchando num assobio em u.

desce também pelas narinas aerando a barriga, e molha a calcinha.

nesse estado, o cheiro se liquefaz, untando a cintura, as costas, a dobra dos joelhos.

até ir se solidificando em coriza noturna, depois em baba que quica na pele queimada do cóccix.

aí se mistura ao suor para cristalizar o sal.

então tem-se um produto novo que não está à venda nas farmácias, mercados, nem é patenteado ainda:

um concentrado umectante em pó, de cheiro de sal de gente, envasado hermeticamente com a força das pernas.


Ana Claudia Abrantes

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