Tal como cai um rei de copas, caiu o sol de primavera.
A neblina levanta às quatro da manhã.
Assim não se vê o sol diretamente, mas ele está ali,
tingindo de cinza as folhas verdes
daquele canto de mata.
Enquanto isso, uma cascata cicia
um cântico
alvoroçado e brando, mas não sussurra.
É Oxum que grita, palidamente, a cabeça nas pedras,
o ombro ainda não saiu das águas.
Alguns raios a mais, amarelos, e enfim
ela emerge tensa, enregelada,
os lábios roxos,
ainda tem olheiras.
Na pele transparente dos seios pulsam
geográficas veias
azuis e verdes,
mas na cabeleira grisalha já se veem
uns fios ruivos,
querendo fazer aurora.
É preciso amar Oxum, mimá-la,
raspar com facão suas escamas de peixe,
deixar sangrar somente o necessário
e então
preparar-lhe um verão
(ameno),
deixar que tome
a alma das árvores,
amar iara virando fada
.
.
mais uma vez.
Ana Claudia Abrantes
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