quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

o tempo de uma prece

o sorriso mais bonito e seu brilho podem durar apenas dois segundos, mas os franceses dariam beijos sob a Torre, pois é muito mais romântico que no alto dela.
considerando-se que não se pode ver a vida panoramicamente sempre, às vezes é preciso fazer escolhas no vazio:
entre a mentira e a família, entre o amor e a verdade, entre a necrose e o linfonodo acometido,
tudo vinga ou se vinga em uma vela acesa
cuja resina também evapora ao final da novena
e fica só o pires.
um cão carinhoso que dura menos que o dono,
o dia,
o percurso molhado de uma lesma,
o prazo de validade das dores e das seringas,
as enxaquecas que são filhas do medo,
os enjoos matinais que são filhos dos filhos
nós os fazemos de pé, encostados nos troncos.
assim que nascem, cagam-lhe os pardais, como se fossem árvore,
mas são esperanças e contraem delírio, sem cura: escrevem versos, fazem febre, balançam as orelhas e arregalam os olhos com frequência.

o sol é morno, mas
o vento é leve, mas
a vista daqui é linda, mas
a minha vontade não fazia
prece alguma.




Ana Claudia Abrantes

11 comentários:

Lê Fernands disse...

e nem impunha condições.

Yan Venturin disse...

a vontade de uma consciencia livre...

A.S. disse...

Ana Cláudia,

Teu texto é muito mais que uma prece... é um designio!!!
Adorei...


Beijos,
AL

Anna Apolinário disse...

gostei...
bjos querida

Ana SSK disse...

agridoce!

Anônimo disse...

Isso! Cutuca! que é pela leveza que se sente o peso da liberdade...


bjinho

Jozi Elen Fleck disse...

Toda a tua poesia é linda.
Parabéns.
Jozi,
O lugar das Cores Escritas

Sinara Jaroseski disse...

O que mais me dói é o cão que morre antes do dono, pois esse amor é incondicional, não te troca por nada!
Lindo teu texto!

Sinara Jaroseski disse...

O que mais me dói é o cão morrer antes do dono! Esse é um amor incondicional, que não te troca por nada!
Lindo texto!

Jorge Manuel Brasil Mesquita disse...

Que se arregalem os olhos ante o vento do dia e da noite que trazem palavras de finas rendas feitas por mãos delicadas e doces!
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 03/02/2011

Anga Mazle disse...

Ótímo poema, Ana. Imagens fortes num ritmo alucinante. E a estrofe final surpreende, pela inusitada redundância do "mas".

Aliás, todos os poemas que li aqui são muito bons.

É um grande prazer conhecer o seu blog.

Beijos