quinta-feira, 30 de julho de 2009

Coma

Ratos alimentados podem fazer parte da história. Os ratos chegam antes do jantar e ficam à espera.
Sempre que se está à espera uma sombra é figura.
Quando vultos de farelos caem da mesa eles correm.
Mas os farelos eram só a purpurina se soltando da toalha decorada.

Hoje nem tudo alimenta, mas tudo é brilho.
E todos os olhos fotofílicos se apertam no desespero das risadas.

Tudo que espera subsiste, enquanto tudo que queima morre mais depressa.
Ratos não queimam espontaneamente.
O jantar acabou e eles sobem até a tábua.
Os talheres frios, os copos abandonados, os restos inanimados, mas ainda odoríferos: subsistência.
O jantar corre sem o tilintar de garfos e pratos; não é uma festa.
E se come de pé, fazendo pequenos bolos com as mãos.
Há muito as velas se apagaram.
O silêncio escuro do jantar não abre sorrisos.



Ana Claudia Abrantes

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