(ou Para aquele ponto de Arnaldo Antunes)
A vida daqui é linda
talvez porque seja finda
talvez porque seja ainda
surpresa que não termina.
A rua parou na poesia
e pena que não seja minha
estrofe de presente é linda.
Talvez porque seja sonho,
emblema da Siqueira Campos
onde uma caminhada paralítica
aterrissa
no poema
e desfaz, por um segundo, o teorema: nó.
Golpe súbito, poema em pó
que se chupa como ki-suco,
deixando vermelha a língua,
vermelho o vestido e o dia
se eterniza na geografia
de uma estação
É verão!
Ana Claudia Abrantes
17/02/2007
Toda vez que desço na Siqueira Campos eu me deleito com aquele poema de Arnaldo Antunes. É um minuto de presente que eu retiro do meu dia, em dia ou atrasada, não importa, esse presente em minuto é meu. E assim o poema também fica um pouco meu. Um ponto dessa cidade que marca a minha vida, que me marca e eu também me dou de presente pra mim nessa hora. É um ritual, um segredo do meu espírito que se recusa a não se deliciar repetindo, repetindo em voz alta o suficiente para eu ouvir que a vista é linda, talvez porque seja linda, talvez porque não se veja e por isso mesmo seja mais linda... ainda.
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