quarta-feira, 8 de agosto de 2007

poema de presente

(ou Para aquele ponto de Arnaldo Antunes)

A vida daqui é linda

talvez porque seja finda

talvez porque seja ainda

surpresa que não termina.

A rua parou na poesia

e pena que não seja minha

estrofe de presente é linda.

Talvez porque seja sonho,

emblema da Siqueira Campos

onde uma caminhada paralítica

aterrissa

no poema

e desfaz, por um segundo, o teorema: nó.

Golpe súbito, poema em pó

que se chupa como ki-suco,

deixando vermelha a língua,

vermelho o vestido e o dia

se eterniza na geografia

de uma estação

É verão!

Ana Claudia Abrantes

17/02/2007

Toda vez que desço na Siqueira Campos eu me deleito com aquele poema de Arnaldo Antunes. É um minuto de presente que eu retiro do meu dia, em dia ou atrasada, não importa, esse presente em minuto é meu. E assim o poema também fica um pouco meu. Um ponto dessa cidade que marca a minha vida, que me marca e eu também me dou de presente pra mim nessa hora. É um ritual, um segredo do meu espírito que se recusa a não se deliciar repetindo, repetindo em voz alta o suficiente para eu ouvir que a vista é linda, talvez porque seja linda, talvez porque não se veja e por isso mesmo seja mais linda... ainda.

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