agatha negra de neblina em transe
em crise em filme de ficção natural
de um mal que a película não quer
suportar é além da força que está
sobre os pés.
A noite escura da alma
é azul marinho do escuro céu
sem véu de estrelas nem láctea
imagem de brancura diáfana.
A noite escura da alma
está dependurada e crucificada
como um cristo reverso enforcada
no meu eu sem outro meu.
A noite escura da alma
está presa na sala escura
projeção sem força de luz
sem auxílio sem nome sem giz
numa lousa queimada de cinza.
A noite escura da alma
não vomita não mija não cospe,
enjoa.
Agüenta, entope os filtros
da inocência e pureza, sem propósito
sem grito, sem festa, sem lenço
de papel ou abraço.
A noite escura da alma
acompanha passeia pastosa
sem ar sem aerado
arenosa noite escura sem fim.
A noite escura da alma
me gruda me prende me chama
me cala me dosa me rende
me doma com nojo me inflama
sem misericórdia sem mistério
sem verso sem prosa
sem tempo sem medo sem vento
sem cedo.
A noite escura da alma
agarra
como pigarro encarnado
na garganta sem voz nem
canto ou saliva
nem sonho nem nada.
A noite escura da alma
me convida
ao tédio à cerveja à igreja
ao samba ao beijo ao remédio
à tarja preta.
A noite escura da alma
me alucina
me dói a cabeça e vacina
a ingenuidade.
me empurra me porra
contra a parede chapisco
me marca pro resto de mim.
A noite escura da alma
me conclui.
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