
não se contam.
Um grilo, sobre pernas suavíssimas, pousaria sobre um peito sem acordá-lo.
A borboleta baila se adequando aos dedos que brincam com as asas amarelas.
A matéria de tudo o que é suave é leve, e é sucinto o nem se pode contar:
como ao beber água fresca: deixo-a pingar e não enxugo a boca,
como eu que vejo um buquê de flores do campo e o quero,
como minhas vontades de tomate,
como ter gosto de ver um carinho ousado de casal.
Há coisas que não se contam.
É do gato descer as escadas sem ranger degraus nem assustar a casa.
É da teia capturar o inseto sem antes ameaçá-lo.
O que não se pode contar não se pode conter.
O que te conto, não.
Ana Claudia Abrantes