Sublinha tuas coisas sagradas, tua história sagrada, tua vida, teu espaço sagrado. Sublinha o que te é próprio, tua identidade, mas lembra-te de circular em volta também. Um círculo grande que envolva o outro que é e não é teu. Assim terás tanto a tua propriedade quanto a solidariedade do próximo.
Ana Claudia Abrantes
29/07/2008
terça-feira, 29 de julho de 2008
Sonhos
Hoje eu queria muito escrever sobre sonhos. Os meus, os dos outros, os meus comigo, os dos outros comigo, os meus com os outros. Eu queria dizer que não tenho culpa e que tenho sim. Que quis e que não quis. Que matei sim e que morri por dentro. Que matei sim, mas também morri. E que depois nunca mais sorri com sinceridade. Mas eu não consigo dizer isso tudo, ou nada disso, então deixo de dizer concretamente:
Óbvio que sonho sonhos que lamento óbvios sonhos de ternura e ódio contra as próprias vísceras e sim.
Sim aos que seriam nossos que diriam lógicos aos nossos sonhos, “sim!”.
Vício que lamenta sonhos de ternura e ópio de um filho pródigo que fugiu do sim que seguiu o fim que manteve além o infinito bem, o esquecido mal, o prevenido sal na ponta da língua, do umbigo, do laço que se desfez e rápido se escondeu num átimo do tempo e o máximo a contento é o mínimo que se pode ser, que se pode esperar, que se pode sonhar. Com um vazio de notas, com uma caixa vazia, uma concha vazia, uma mão aberta em concha, um silêncio aberto em entrelinha, e as demandas (próprias e alheias) cheias de gás e de lágrimas.
Ana Claudia Abrantes
29/07/2008
Óbvio que sonho sonhos que lamento óbvios sonhos de ternura e ódio contra as próprias vísceras e sim.
Sim aos que seriam nossos que diriam lógicos aos nossos sonhos, “sim!”.
Vício que lamenta sonhos de ternura e ópio de um filho pródigo que fugiu do sim que seguiu o fim que manteve além o infinito bem, o esquecido mal, o prevenido sal na ponta da língua, do umbigo, do laço que se desfez e rápido se escondeu num átimo do tempo e o máximo a contento é o mínimo que se pode ser, que se pode esperar, que se pode sonhar. Com um vazio de notas, com uma caixa vazia, uma concha vazia, uma mão aberta em concha, um silêncio aberto em entrelinha, e as demandas (próprias e alheias) cheias de gás e de lágrimas.
Ana Claudia Abrantes
29/07/2008
sábado, 19 de julho de 2008
Sobre a beleza
Lendo uns apontamentos sobre Clarice Lispector, fui obrigada a refletir sobre a beleza. Seguinte:
Que a beleza pode ser uma prisão é o óbvio repetido.
Carência, por exemplo. Carência demais corre o risco de ser algo bem feio. Lágrimas em excesso, falta, baba de choro, sofrimentos, letargia... Mas se um amigo, amigo mesmo, pergunta como vamos, querendo de verdade saber a resposta, quantos de nós não diríamos:
_ Ótimo! Melhor impossível!
E por trás dos olhos aquelas nuvens...
Acabamos de levar o maior pé na bunda, perdemos o emprego, fizemos a pior merda da vida. Mas está tudo ó-ti-mo!
Será que andamos querendo ser bonitos demais? Não fisicamente falando, mas... Todo mundo faz cara de paisagem... Eu mesma, quantas vezes não fui blasé...
E em nome da carinha blasé, da atitude blasé, em nome da não exposição, em nome da discrição, a bendita discrição...
Até agora a beleza da discrição não me revelou e, se eu não me revelo, serei pela metade, uma não-eu eternamente... Quase uma maldição isso...
A tal personagem do livro de Clarice Lispector (G.H.) se expõe à enorme surpresa diante da pobreza da coisa dita:
“Pois nunca, até hoje, temi tão pouco a falta de bom-gosto. Escrevi: “vagalhões de mudez”, o que antes nao diria, pois sempre respeitei a beleza (...) Disse “vagalhões de mudez”, meu coração se inclina humilde e eu aceito. (...) Quanto eu deveria ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética...”
E eu penso:
Quanto que a estética já não fez de mim metade de mim mesma? Quanto não impediu o outro de me ver? Quanto não me impediu o aprofundamento, a inclusão nas coisas, nas pessoas. Quanto o bom gosto não nos prejudica , tornando-nos pseudo-rochas, inalcançáveis, porém belíssimos...
Ana Claudia Abrantes
Que a beleza pode ser uma prisão é o óbvio repetido.
Carência, por exemplo. Carência demais corre o risco de ser algo bem feio. Lágrimas em excesso, falta, baba de choro, sofrimentos, letargia... Mas se um amigo, amigo mesmo, pergunta como vamos, querendo de verdade saber a resposta, quantos de nós não diríamos:
_ Ótimo! Melhor impossível!
E por trás dos olhos aquelas nuvens...
Acabamos de levar o maior pé na bunda, perdemos o emprego, fizemos a pior merda da vida. Mas está tudo ó-ti-mo!
Será que andamos querendo ser bonitos demais? Não fisicamente falando, mas... Todo mundo faz cara de paisagem... Eu mesma, quantas vezes não fui blasé...
E em nome da carinha blasé, da atitude blasé, em nome da não exposição, em nome da discrição, a bendita discrição...
Até agora a beleza da discrição não me revelou e, se eu não me revelo, serei pela metade, uma não-eu eternamente... Quase uma maldição isso...
A tal personagem do livro de Clarice Lispector (G.H.) se expõe à enorme surpresa diante da pobreza da coisa dita:
“Pois nunca, até hoje, temi tão pouco a falta de bom-gosto. Escrevi: “vagalhões de mudez”, o que antes nao diria, pois sempre respeitei a beleza (...) Disse “vagalhões de mudez”, meu coração se inclina humilde e eu aceito. (...) Quanto eu deveria ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética...”
E eu penso:
Quanto que a estética já não fez de mim metade de mim mesma? Quanto não impediu o outro de me ver? Quanto não me impediu o aprofundamento, a inclusão nas coisas, nas pessoas. Quanto o bom gosto não nos prejudica , tornando-nos pseudo-rochas, inalcançáveis, porém belíssimos...
Ana Claudia Abrantes
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Gramática ou poesia? Uma questão.
Os advérbios de tempo carregam noções diversas.
O "agora" acorda todos os sentidos e suas urgências. Ele vem como vai, depressa. É um tempo que não existe porque se consome naquilo que consome.
O "ainda" é a angústia da demora. O bom que ainda não veio, o mau que ainda não terminou.
"Nunca" é peremptoriamente o não. Redondo. Enquanto que o "sempre" é a eterna delicadeza do sim: a cor branca, a letra a, a porta aberta. Ambos, no entanto pecam pela presunção.
Mas essa aula de gramática não existe, talvez seja "só" poesia...
(Uma anacrônica pensando a vida. E os poemas seguem...)
O "agora" acorda todos os sentidos e suas urgências. Ele vem como vai, depressa. É um tempo que não existe porque se consome naquilo que consome.
O "ainda" é a angústia da demora. O bom que ainda não veio, o mau que ainda não terminou.
"Nunca" é peremptoriamente o não. Redondo. Enquanto que o "sempre" é a eterna delicadeza do sim: a cor branca, a letra a, a porta aberta. Ambos, no entanto pecam pela presunção.
Mas essa aula de gramática não existe, talvez seja "só" poesia...
(Uma anacrônica pensando a vida. E os poemas seguem...)
ainda
ainda
agora
é finda
e linda
a moça
ainda
é?
mais linda
ainda
é
a menina
ou a
desmedida
da mulher?
ainda
agora
em tempo
é tempo
ainda
de dizer?
que a hora
é
ainda agora
e o hoje
e o ontem
têm
você.
Ana Claudia Abrantes
agora
é finda
e linda
a moça
ainda
é?
mais linda
ainda
é
a menina
ou a
desmedida
da mulher?
ainda
agora
em tempo
é tempo
ainda
de dizer?
que a hora
é
ainda agora
e o hoje
e o ontem
têm
você.
Ana Claudia Abrantes
indelével
ontem
encontro
aqui
cá.
hoje
ainda...
ali
lá.
longe
distante
ausente.
agora presente:
sempre indelével.
Ana Claudia Abrantes
encontro
aqui
cá.
hoje
ainda...
ali
lá.
longe
distante
ausente.
agora presente:
sempre indelével.
Ana Claudia Abrantes
quinta-feira, 10 de julho de 2008
sertão
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