abra-se o sol para a lua entrar abra-se o mar.
abra-se o calor e instale-se o frio abra-se o rio.
e que este amor abra-se assim e vá.
vá adiante além embora em boa hora.
que ele desista e não insista amor meu
louco como espada em algodão inofensivo
manchando de vermelho sem sentido a cerda a lã o vinco
da pele pálida de esperança retardada em biênio.
a bienal do amor na minha casa
é onde o coração mancha de ácido a entrega dos vazios.
amor que se perdeu em suspensão sem nome,
amor que se esqueceu de acontecer
como mentira quintanesca e tão inocente
porque mentira de criança em quem se crê.
que venha a idade, me invada, arte
de fazer do tempo o aprendiz do torto irregular
para acolher a curva e o que há, depois.
depois me deixe só a saliva no canto da boca
que eu sei ficar com o que me resta e que é só meu.
foi só aqui que aconteceu,
foi só aqui que a vida fez seu universo em fábula,
embrulhado em reluzente bolha de sabão que explodiu do amanhã.
Ana Claudia Abrantes
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