O meu filho não me prolonga; ele é todo ele, imensamente.
Escrever um livro é esforço vão.
Inútil cada palavra escrita na minha insônia.
Na minha cama cômoda e sem mel, cada palavra dita é dita à toa.
Tudo é vaidade e nada fica.
Por isso não risco troncos já tão feridos do amor dos outros.
Tampouco digo adeus às despedidas.
De cada adeus acolho seus abismos e aceito
o voo certo, preciso, endereçado
dos meus amores
para longe e nunca mais.
Eu.
Não plantei uma árvore.
Mas fico.
Eu sou a raiz serena de planta frutífera,
que no sereno, orvalhada e úmida,
dispersa a alma já difusa,
e o corpo rijo concretamente congela
na tua fotografia digital.
E beijo tua boca umas quatro vezes ao dia
pela tela do meu celular.
Nada.
Nada marca a minha passagem.
O esquecimento é inevitável e qualquer glória seria vã.
Nem a tua passagem se marca, Álvaro.
Só existe o caminho, que deve ser trilhado pelos dois deveras,
onde o nosso amor alegre
delicado como uma ternura
se desencontra
no infinito.
Ana Claudia Abrantes
Um comentário:
Olá, Ana.
eu não sei quem inventou essa história de filho, livro e árvore. Pessoalmente, não vejo lá muito sentido nisso. Bem, mas é só uma opinião...
No entanto, partindo desse tema, posso dizer que você escreveu um texto excelente. Ele me lembrou um pouco o estilo da Lispector. Porém, um pouquinho mais poético que os dela.
Meus parabéns! um abraço,
André
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