segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Rosa de pedra

Giovanna é uma rosa de pedra. Ela não tem sede. Como rosa é rainha, e como pedra é retesada. Giovanna é dura como a mais bela não poderia e, como pedra, ela teme a água. Teme o lume que dela a água faria: rosa fraca desfolhada. Botão hidrofóbico encharcado não se abre ou, se abre, quebra. Rosa quase verde, quase cálida, rosa sem jardim. Giovanna com água é pedra em genuflexão e, porque se inclina, perde sua natureza excêntrica de pedra. Uma pedra não se rende, Giovanna.

Giovanna não sabe que eu tenho sede. Uma sede infinita e ancestral. Não sabe que amor e água são a minha inteira natureza. E que todas as criaturas do mundo têm sede na minha memória.

Giovanna molhada chora. Ela está morrendo agora, bem na minha mesa, de tanto amor que eu lhe dei.

Ana Claudia Abrantes

12 de janeiro de 2009

Alguma aurora

Nunca estive tão encharcada

na água suja e fria das poças de verão.

Nunca estive tão encharcada

em sangria que sobrou de 2008.

Nunca estive tão encharcada em honey mustard.

Nunca estive tão mais que úmida, tão súdita, tão sem nome

Nunca estive tão puzzle

e, tão súbita, única poeta que sobreviveu.


Nunca estive tão só e tão em frente sem saber...

Nunca estive tão apesar de.

Nunca estive tão chuva, tão culpa, tão runas, tão tarô.

Nunca estive tão hídrica, em fim.

Nunca estive tão meio-centro, tão lenta: tonta, tão líquida: tinta, tão tom.


Nunca estive tão noite escura da alma e alguma aurora.




Ana Claudia Abrantes

janeiro de 2009


palíndromos

a coragem que vem da derrota é humana.

Ianai, Hanah, Ana, amar rama

a coragem que vem da derrota é humana.

Ianai, Hanah, Ana, amar rama

a coragem que vem da derrota é humana.

Ianai, Hanah, Ana, amar rama




humana é a derrota que vem da coragem

de amar.



Ana Claudia Abrantes

08 de janeiro de 2009