terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

sem abrigo

agradeço às minhas onze horas pela energia dispendida todas as manhãs, sob o sol selvagem, para me fazer flores lindas, ordinárias e franciscanas.


A.C.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ao abrigo da luz

ao abrigo da luz, os perfumes caros
e os remédios.
contra os flashes, a proibição de máquinas e celulares.
ao abrigo, na penumbra devem estar as obras raras,
embora no escuro bibliotecas sejam pó.

lentamente as pessoas derretem
e se fossem de cera escorreriam
sob holofotes.

o tempo e a luz, uma lei da física
inevitável teus olhos cada vez mais distantes.

é a luz que ameniza humores melancólicos,
que deixa contritos os prováveis suicidas, e eles retrocedem.
a luz que as mãos dão aos filhos e que faz
crescerem as plantas,
a luz que evapora na praia,
que enternece uma manhã de sol, mas a luz do sol
derrete, e tudo é ícaro, todo voo cai.
dói ao continuar batendo no mesmo lugar,
diariamente.

também a pele das testemunhas fica
feito frinchas de falésias, amorenada.
o tempo e a pele, muros
de barro ou bronze, quebrados.
manchas, sardas, linhas, pequenas mágoas, todo dia.
as fotografias craquelam, memórias falhas.
mas se até as testemunhas envelhecem,
a solidão não é um privilégio.
nenhum abrigo.



Ana Claudia Abrantes

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

oito/oitenta - vida/morte

oito
já procurei a cama no ângulo certo / para aquecer a bunda no sol pela janela.

oitenta
também abro as pernas aos ventiladores / para refrescar o sol de fevereiro.

A seca é grande depois da tempestade, não a bonança.
Mas enquanto fizer sol pela manhã, a cirurgia não acaba,
nem a esperança.



Ana Claudia Abrantes